Quando a dor está presente no nosso dia-a-dia, especialmente quando se trata de uma Dor Crónica, nem sempre nos conseguimos manter positivos.
Falar em conviver com a dor com uma atitude e pensamento positivo nem sempre pode ser considerado uma tarefa fácil. Conhecendo a realidade hospitalar e de doença, tenho consciência da dificuldade que é uma pessoa portadora de dor crónica adquirir uma postura positiva em relação à vida quando vive quando assombrada pela dor.
Contudo tal é possível e desejável.
Aqui gostava de explorar um pouco este tema, fazendo primeiramente a distinção entra a dor crónica e aguda, quais os fatores influenciadores e percebermos quais as estratégias que podemos implementar no sentido de reduzir a dor e melhorar a qualidade de vida.
A Dor Aguda tem carater fisiológico, é desencadeado por uma lesão e tem função de alerta e defesa. Por norma, tem uma duração breve. Além disso, é desencadeada por um estimulo nociceptivo e /ou reação inflamatória e tem relação cauda efeito bem determinada.
A dor diz-se crónica quando, de modo geral, persiste após o período estimado para uma recuperação tecidual normal. Não tem uma função protetora, e mais que um sintoma pode ser considerado uma doença.
A dor crónica pode aparecer em contexto de diversas doenças, tais como:
- cancro;
- artroses;
- diabetes;
- fibromialgias;
- entre outras.
Segundo o manual de dor crónica, esta afeta cerca de 36% da população portuguesa com mais de 18 anos. Esta percentagem equivale o sofrimento de cerca de 3 milhões de indivíduos. Havendo em todos eles consequências para a saúde, bem-estar, realização de atividades diárias e desempenho profissional.
A prevalência da dor aumenta com a idade em ambos os sexos contudo, é maior no sexo feminino.
Sabe-se que a dor crónica está associada a vários fatores psicossociais. Exemplo disso são: a depressão, a ansiedade, o consumo excessivo de álcool e tabaco. É ainda importante ter em conta fatores sociodemográficos como a idade, peso corporal, género, etnia e até o estado civil. Além disso, o nível socioeconómico, emprego e o meio habitacional (rural ou urbano) são igualmente importantes quando falamos de dor crónica.
O impacto da dor crónica pode ser avassaladora na vida do individuo e também na sociedade.
A dor representa perdas de saúde individual e coletiva, bem como grande sofrimento. Inevitavelmente, vai ter um impacto económico negativo pois vai gerar milhões de euros em perdas salariais, perda de dias de trabalho e ser uma das principais causas para a incapacidade para o trabalho.
Quando não tratada, a dor crónica pode ser causa de depressão, afeta as relações familiares e sociais. Entre as principais consequências da dor crónica podemos destacar:
- Incapacidade física e funcional
- Dependência
- Afastamento social
- Alterações na líbido
- Mudanças na dinâmica familiar
- Desequilíbrio económico
- Falta de esperança
A Dor e a Meditação
Vários são os estudos elaborados que evidenciam a importância da meditação/mindfulness no tratamento da dor crónica. Podemos destacar alguns resultados mais relevantes: a resposta emocional é melhorada, a perceção à dor é menor e a tolerância é maior.
Existe também uma relação entre a meditação e a aceitação da dor e função física.
Ryman(1995) define Relaxamento como “Um estado de consciência caracterizado por sentimentos de paz e alivio de tensão, ansiedade e medo”.
Segundo Rosemary Payne em “Técnicas de Relaxamento”, um manual para profissionais de saúde, as práticas de relaxamento podem ser divididas em :
Físicas/musculares:
Relaxamento progressivo; treino relaxamento progressivo, relaxamento muscular passivo, relaxamento aplicado, treino relaxamento comportamental, Método de Mitchel, Alexander, respiração, exercício físico, alongamentos….
Mentais/psicológicas
Consciencialização, imagens metais, visualização dirigida a objetos, treino autogénico, Meditação, método de Benson.
Quando falamos em meditação, não existe um denominador comum universal.
A sua definição difere entre as escolas e cada uma dá sua própria interpretação.
Sabemos que é um dos métodos mais antigos, utilizado em diferentes culturas, tradições, religiões. Originária do Oriente, foi gradualmente sendo integrada nas tradições ocidentais.
O Termo “Mindfulness” – Atenção Plena foi introduzido e desenvolvido no ocidente por Jon Kabat-Zinn com o programa MBSR — Mindfulness Based Stress Reduction (Redução de stress baseada em atenção plena).
No entanto, em todas as culturas tem como conceito que a meditação é como um “esvaziamento da mente”, uma abertura para o próprio ser. Como consequência e encadeamento surge “o revelar do mundo interior” que, além de definir um estado é também um método.
Enquanto estado, a mente está tranquila e escuta-se a si própria. Enquanto método, o individuo foca a atenção num determinado estímulo, sem esforço, sem crítica, sem julgamento; com mente aberta e recetiva;
Entre os inúmeros benefícios da meditação temos :
- Maior compreensão de sí próprio;
- Relaxamento e paz interior;
- Aumenta a concentração, atenção, memória;
- Reduz e stress, ansiedade e estados depressivos;
Depreendemos assim que, apostar nas práticas de relaxamento e práticas meditativas, constitui um meio complementar seguro, eficiente e de baixo custo económico.
Acredito na máxima: ensina a pescar em vez de dar o peixe, por isso incentivo e ensino a prática Meditativa Integral. Essa é a minha minha missão e propósito de vida!
Fonte: Manual de dor crónica / Cristina Ritto… [et al.]. – 2ª ed. – Lisboa : [s.n.], 2017. – 316 p.